terça-feira, 6 de outubro de 2009
♥ Coiotando...
Trecho de uma das cartas de Coiote ao doutor Flügel...
"Mas o motivo dessa carta é outro. Eu sinto muito a sua falta e a sua ausência. Tenho carência daquilo que a gente vive quand tá junto, perto, se tocando, conversando, ou só se olhando, ouvindo música e pensando um no outro. Enfim, namorando. Aquele jeito bonito e só nosso de namorar. Só nosso, e isso eu te posso garantir, porque sou namorador pra cacete e nunca fiquei asism com ninguém. Do jeito que fico com as meninas é até mais gostoso, mas o nosso jeito tem emoção diferente, tem outro mistério. Não é que eu goste mais, mas é um negócio que tava faltando e eu nem sabia que existia.
Conversei sobre saudade com o Manó. Eles, os duendes, não sentem isso. Ele disse que ninguém pode sentir falta de ninguém, porque devemos ser completos na gente mesmo e, assim, a gente se basta. O que para eles é gostoso e o que interessa nas relações entre as pessoas é o inédito, o inesperado, o desconhecido, o insólito. Assim, eles não podem sentir saudade, porque nada se sabe do outro e nada se repete com o outro, então o bom e gostoso é não esperar e nem lembrar coisa nenhuma.
(...)
É, é bonito! Mas comigo não é assim! Eu sinto saudade de você porque eu me lembro muito bem como foi bom subir o rio ao seu lado, como foi emocionante a nossa conversa, como eu me sinto mais vivo e mais inteligente quando trocamos carinhos e idéias, como a Natureza parece mais bonita e sempre nova se a gente olha e sente as coisas juntos. Pois é, eu queria que fosse assim todo dia e não gosto de ficar sem nada dessas coisas.
Acho que a saudades é um negócio egoísta, sem dúvida. Mas é o que eu tô sentindo e isso é supersincero. Uns tem muita, outros pouca, outros nenhuma, como eu, você e o Manó, cada um do seu jeito. E a diferença não é a questão de amar menos ou mais. Em mim, tenho certeza, a saudade é muito forte porque as pessoas sentem medo de mim e não conseguem, acho que por causa disso, ser de fato meus amigos. (...) Eu acho que não é difícil colocar todo amor da gente na relação com qualquer pessoa. Dificuldade braba mesmo é conseguir estar inteiro na relação pra se poder viver o amor quando ele vem todo. Aqueles teus socos na minha cara e no meu peito é que me deram a condição de ser inteiro. O Manó me contou tudo sobre aquela noite. Por isso, hoje eu vivo todo o meu amor por você e sinto, obedecendo à Lei de Newton, esta tremenda saudade! Na distância, todo afeto corresponde a uma saudade igual e de prazer contrário. Dá pra sacar? Isso é ciência, doutor...
Além disso tudo, tem ainda uma estranha pressa e urgência dentro de mim, em relação às coisas que gosto e me realizam de alguma forma. É como se o tempo fosse menor que o necessário pra viver tudo e tanto as coisas que eu posso ainda viver. E isso tem que ver com você, doutor. Tenho de viver o mais que eu posso com você, perto de você. Tá vendo? Não é bem saudade o que eu sinto! Lembrei! Sabe o Tampa? Ah, você não conhece, mas ele tá aqui em Mauá também. Quando a gente era menor, um dia eu falei pra ele assim: 'Vamos comigo?' Ele respondeu em cima: 'Vamos!' Aí eu falei, gozando ele: 'Cê fala que vai, sem nem saber pra onde!' Ele comentou, me abraçando: 'Quero é estar com você, não importa onde.' Esta história é interessante porque o Tampa parece mais com você do que comigo, pois você me topa, topa o meu projeto de comunidade, eu sei, só pra me deixar contente e pra estar comigo. Mas, eu pareço um pouco com o Tampa também, porque sinto a sua falta, quero é estar ao seu lado, mas... mas fazendo o que eu quero, seguindo o meu caminho, não o seu, nem sua vontade. Aliás, doutor, eu não conheço nenhuma de suas vontades próprias, nem sei se tem um caminho."
Uma das partes que eu mais curti no livro... Agora já cheguei no Epílogo, estou quase terminando. E no feriado, lá vamos nós coiotar em Lapinha da Serra... =)
"Mas o motivo dessa carta é outro. Eu sinto muito a sua falta e a sua ausência. Tenho carência daquilo que a gente vive quand tá junto, perto, se tocando, conversando, ou só se olhando, ouvindo música e pensando um no outro. Enfim, namorando. Aquele jeito bonito e só nosso de namorar. Só nosso, e isso eu te posso garantir, porque sou namorador pra cacete e nunca fiquei asism com ninguém. Do jeito que fico com as meninas é até mais gostoso, mas o nosso jeito tem emoção diferente, tem outro mistério. Não é que eu goste mais, mas é um negócio que tava faltando e eu nem sabia que existia.
Conversei sobre saudade com o Manó. Eles, os duendes, não sentem isso. Ele disse que ninguém pode sentir falta de ninguém, porque devemos ser completos na gente mesmo e, assim, a gente se basta. O que para eles é gostoso e o que interessa nas relações entre as pessoas é o inédito, o inesperado, o desconhecido, o insólito. Assim, eles não podem sentir saudade, porque nada se sabe do outro e nada se repete com o outro, então o bom e gostoso é não esperar e nem lembrar coisa nenhuma.
(...)
É, é bonito! Mas comigo não é assim! Eu sinto saudade de você porque eu me lembro muito bem como foi bom subir o rio ao seu lado, como foi emocionante a nossa conversa, como eu me sinto mais vivo e mais inteligente quando trocamos carinhos e idéias, como a Natureza parece mais bonita e sempre nova se a gente olha e sente as coisas juntos. Pois é, eu queria que fosse assim todo dia e não gosto de ficar sem nada dessas coisas.
Acho que a saudades é um negócio egoísta, sem dúvida. Mas é o que eu tô sentindo e isso é supersincero. Uns tem muita, outros pouca, outros nenhuma, como eu, você e o Manó, cada um do seu jeito. E a diferença não é a questão de amar menos ou mais. Em mim, tenho certeza, a saudade é muito forte porque as pessoas sentem medo de mim e não conseguem, acho que por causa disso, ser de fato meus amigos. (...) Eu acho que não é difícil colocar todo amor da gente na relação com qualquer pessoa. Dificuldade braba mesmo é conseguir estar inteiro na relação pra se poder viver o amor quando ele vem todo. Aqueles teus socos na minha cara e no meu peito é que me deram a condição de ser inteiro. O Manó me contou tudo sobre aquela noite. Por isso, hoje eu vivo todo o meu amor por você e sinto, obedecendo à Lei de Newton, esta tremenda saudade! Na distância, todo afeto corresponde a uma saudade igual e de prazer contrário. Dá pra sacar? Isso é ciência, doutor...
Além disso tudo, tem ainda uma estranha pressa e urgência dentro de mim, em relação às coisas que gosto e me realizam de alguma forma. É como se o tempo fosse menor que o necessário pra viver tudo e tanto as coisas que eu posso ainda viver. E isso tem que ver com você, doutor. Tenho de viver o mais que eu posso com você, perto de você. Tá vendo? Não é bem saudade o que eu sinto! Lembrei! Sabe o Tampa? Ah, você não conhece, mas ele tá aqui em Mauá também. Quando a gente era menor, um dia eu falei pra ele assim: 'Vamos comigo?' Ele respondeu em cima: 'Vamos!' Aí eu falei, gozando ele: 'Cê fala que vai, sem nem saber pra onde!' Ele comentou, me abraçando: 'Quero é estar com você, não importa onde.' Esta história é interessante porque o Tampa parece mais com você do que comigo, pois você me topa, topa o meu projeto de comunidade, eu sei, só pra me deixar contente e pra estar comigo. Mas, eu pareço um pouco com o Tampa também, porque sinto a sua falta, quero é estar ao seu lado, mas... mas fazendo o que eu quero, seguindo o meu caminho, não o seu, nem sua vontade. Aliás, doutor, eu não conheço nenhuma de suas vontades próprias, nem sei se tem um caminho."
Uma das partes que eu mais curti no livro... Agora já cheguei no Epílogo, estou quase terminando. E no feriado, lá vamos nós coiotar em Lapinha da Serra... =)
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